segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Escrever sobre nada pode ser escrever sobre tudo

Depois de mais de um ano e meio sem escrever neste blogue, venho atirar palavras aos seus sentidos, prezado leitor, aleatoriamente, como quem não pensa no que vai dizer, mas sabendo muito bem do que tratar.

O nada, embora não seja alguma coisa, é tão real quanto o que existe, por isto me assusta o desprezo das pessoas pela função que o nada cumpre no contexto da realidade. Se o nada não acontecesse, nós sequer existiríamos vivos no meio de uma massa infinita e infinitamente densa, total, assustadoramente imóvel.

A estorinha da caneta é legal para explicar a minha indignação. Abra a sua mão, olhe para ela. Sobre a palma da sua mão poderia estar uma caneta, mas que aí não está. Esta caneta, que não existe e não está aí, podemos chamar de ausência ou nada. Se a nadificação não ocorresse, a caneta que supomos teria obrigatoriamente de estar presente sobre a sua mão. E não somente ela, mas tudo o que podemos e não podemos imaginar teria de estar presente sobre ela. Isto exatamente porque a ausência, o nada não poderia acontecer. Então a sua mão estaria ilimitadamente contendo todas as coisas que poderiam existir.

Se não existe ausência, coisa alguma pode se ausentar de lugar nenhum! Se não pode acontecer o nada sobre a coisa existente, tudo aquilo que existe se farta em si absolutamente de todas as outras coisas que existem (e que existem por não poderem ausentar-se, considerando que não existe ausência). É a existência absoluta, onde não há qualquer espaço vazio, senão um preenchimento completo e a substituição persistente do nada que não pode ocorrer.

Matéria (e não só matéria) absolutamente densa e infinita, no mais infinito sentido de infinitude.

Eis a função do nada, esse esquecido nada; sobre o qual não pensamos e, por isto, nem mesmo o sabemos conceituar. Talvez você, sem ainda compreender o que digo, imagine o nada como um espaço vazio que pudesse ser preenchido por algo existente, mas não, não. Não se trata disso, trata-se de uma ausência, talvez ausência de coisa nenhuma; mas, de fato, nada, nada mesmo. Até porque um espaço vazio existe e tem características, como o volume, por exemplo, que excluem qualquer possibilidade de que o vazio seja nada. O nada nada é e ponto.

Entenda, portanto, a importância do nada. Sem o nada, atividade alguma seria possível, nem mesmo o caos, visto que um preenchimento material absoluto não permitiria qualquer movimentação. Movimento não aconteceria jamais num caso de impossibilidade de nadificação.

Ai de nós, se não pairasse sobre a realidade tanta ausência!

Viva o nada! Muito embora nem mesmo morte o nada seja.

Um comentário:

glebson liMa disse...

É o nada as vezes é o maior conteúdo do nosso vazio!